Arquiteto e arquiteta que se preze adora falar sobre nossa profissão e sua importância para a qualidade de vida das pessoas. Não é para menos! Sabemos que podemos contribuir na construção de um ambiente urbano mais justo e que nossas atitudes podem impactar diretamente o cotidiano de quem vive na cidade. Entretanto, há várias características nem tão elogiosas que os próprios arquitetos admitem estar associadas a uma certa cultura profissional.
Ser crítico com a gente mesmo e saber reconhecer nossas dificuldades é passo fundamental para evoluir na carreira e na vida pessoal. Essa autoavaliação passa por questões de ordem pessoal – como vaidade, empatia e capacidade de comunicação – mas também envolve problemas estruturais do próprio campo. Por isso, o cast da quinzena propõe lavar a roupa suja, deitar arquitetos e arquitetas no divã e refletir sobre quais aspectos de nossa postura profissional precisam de maior atenção!
A partir de uma enquete proposta em nossas redes sociais, vários pontos foram levantados por nossos seguidores. Para mencionar algumas das sugestões, houve quem reclamasse da mania de imprimir o gosto pessoal no projeto do cliente; do apego à softwares muito específicos e que só arquiteto usa; da dificuldade em saber a hora de encerrar a etapa propositiva do projeto e partir para o detalhamento – naquela expectativa de que sempre pode haver uma ideia melhor –, e também da distância do canteiro de obra, afastando o profissional do aspecto mais concreto do cotidiano projetual.
Um dos problemas mais mencionados foi a prática de dar orçamentos considerados abaixo da média de mercado para não perder o cliente. Há várias questões aí e nem sempre está na mão do profissional a oportunidade de estabelecer o preço que considera justo. Dinâmicas econômicas locais interferem, e muito, no contexto de oferta e demanda nas diferentes cidades e seus respectivos mercados de trabalho. Também o tempo de experiência precisa estar refletido nos valores cobrados por escritórios tradicionais, diferenciando-os dos mais recentes e com menor atribuições financeiras. Mas há o problema de desvalorização do reconhecimento da classe quando a prática de orçamento deixa de ser pensada coletivamente.
A vaidade, o ego do arquiteto e da arquiteta, aparece como um dos principais comentários. O campo da arquitetura de fato guarda grande autonomia de outros campos, no que diz respeito ao reconhecimento e valorização profissional. Ou seja, aparentemente valorizamos mais a opinião e o reconhecimento de membros do próprio campo arquitetônico do que de pessoas de fora dele, como a própria sociedade para a qual deveríamos projetar. Esta autonomia se reflete também na forma como nos comunicamos, quando priorizamos uma linguagem técnica mais formal, que pode impressionar nossos pares, mas muitas vezes dificulta o diálogo com o próprio cliente e com outros profissionais. Este problema na comunicação foi um dos apontados por nossos ouvintes, mas há também o entendimento de que os termos técnicos têm sua função e pertinência para o esclarecimento de várias questões específicas dos diferentes nichos de atuação do arquiteto, seja no âmbito do ensino e da pesquisa, seja na prática projetual e na construção.
Vários outros assuntos bastante apropriados ao exercício de reflexão que nos propomos surgiram ao longo deste divertido bate-papo que, apesar de tratar de importantes questões, aborda com leveza um pouco das dores e delícias de sermos arquitetos(as).
Ouça o podcast aqui.
Texto: Aline Cruz.